terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Não se apega não!

   "Sei lá. Ela nunca soube o que escolher. Sempre foi o tipo de garota que não consegue se decidir. Que nunca se decide. Que por medo de arriscar em escolher errado, nada escolhe. Tão desinteressada, tão ela. Folheia revistas sem paciência para ler sobre a vida alheia, fala sério. Mal tem tempo de resolver os problemas da sua vidinha, vai querer saber dos problemas dos outros? Passa por todos canais da televisão procurando algo que lhe interesse. Mas nada interessa. Conversa com as pessoas e dá seus melhores sorrisos. Sempre fingindo achar graça das idiotices que escuta. Irônica e sarcástica, você nunca saberá se ela está realmente sorrindo porque gosta de você ou se ela te acha um completo idiota. Vai saber né. Indecifrável, é o que ela é.
   Sempre rodeada de amigas que queriam saber como ela faz pra ser assim. Tão inatingível. Nem ela sabe porque nada a afeta. Simplesmente, ela não se importa. Nunca se importou. Talvez tenha se machucado tanto que resolveu se desligar do mundo, esquecer as emoções, dar um basta nos sentimentos. As pessoas que hoje em dia não se importam mais, são aquelas que um dia já se importaram demais. Triste? Que nada. Seria triste se ela ao menos se importasse com isso. Ela não liga se ela se tornou tão amarga e desacreditada que nada mais faz diferença. Ela só quer ser livre entende? Sem ter que dar satisfação a ninguém. Quer ser a dona de si. Dona dos seus quase sentimentos. Dos seus quase sorrisos.
   Meninas normais esperam que o amor um dia bata às suas portas, ela? Espera que quando o amor bata, ela esteja ocupada demais para atender. Lendo um livro talvez, falando no celular com o ficante. E por ser desse jeitinho especial, ela se tornou um mistério. Um mistério que todo e qualquer homem quer (e precisa) desvendar. Afinal, o que fazer para que aquele coração bata de novo? O que fazer para que ela dê um sorriso verdadeiro? O que fazer para que ela te ligue ao menos uma vez? O que fazer para que ela não te abandone no dia seguinte? Porque ela abandonará. Você sabe.
   E o mais incrível é que ela não esconde o que é. Diz pra quem quiser ouvir que ela não se importa, que ela não tem sentimentos. ''Não se apega não''. Mas como não se apegar? Como não se apegar àquele jeito meio irônico meio sarcástico que só ela tem? Como não se apegar àquele jeito descontraído, como se nada no mundo a abalasse? Não tem jeito. Quanto mais as pessoas tentam não se apegar, mais se apegam à ideia de descobrir quem é ela. Porque ela é assim.
   Sabe, não é que ela seja fria, ela só não achou ninguém que a aqueça. Alguém que a faça se interessar. Alguém que a faça sentir de novo. Mas enquanto essa pessoa não aparece? Ela continua com sua vidinha, sem maiores emoções, sem grandes sentimentos e sem qualquer envolvimento. Passar bem! Foi ótimo te conhecer. Até nunca mais."

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Pequenas Epifanias do Caio ..



“Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa.
Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera.
Estranho e que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é?
A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas?
A moça…ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar.
Às vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera?
E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. 
A moça – que não era Capitu, mas também têm olhos de ressaca – levanta e segue em frente. 
Não por ser forte, e sim pelo contrário… Por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.”

Caio Fernando Abreu